sábado, 22 de agosto de 2009

Desenvolvendo Atletas

Olá,

Você pratica ou acompanha algum esporte? Se o faz, deve saber da importância que tem o treinamento na vida de um praticante de esportes. É sobre o papel do treinador e da analogia que existe entre ele e os líderes empresariais que gostaria de conversar hoje.

Assim como um treinador de futebol ou volei, um líder empresarial é responsável por desenvolver sua equipe, tanto individualmente quanto coletivamente. Ele precisa dar conforto e segurança a seus atletas, mas sabe que só será capaz de bater seus concorrrentes se souber levá-los a um patamar superior de competitividade que esteja acima dos opositores.

Para ser vencedor, um treinador precisa testar e estender os limites de seus atletas todo o tempo, aprimorando-os a cada ciclo, buscando sempre algo mais. Esses limites não são fáceis de serem ultrapassados, nem tampouco agradáveis de serem atingidos. Eles representam privações e dor, aumentam o estresse físico e mental e testam a capacidade de cada um em se manter motivado na busca de seus objetivos.

Não é possível desenvolver atletas sem testar limites. Não é possível testar limites sem gerar desconforto. Não é possível gerar desconforto e manter motivação se não houver confiança.

Um bom técnico exige de seus atletas até onde sabe que eles serão capazes de suportar. Ao mesmo tempo é capaz de fazê-los atingir limites que eles mesmos não acreditavam ser capazes. Ele os desafia a todo momento e impõe metas e objetivos nem sempre aceitos de maneira tranquila. Um bom técnico é admirado e querido por sua equipe, mas muitas vezes desperta sentimentos nem tão positivos assim. Como ouvi de uma professora há algum tempo, ele tem um molho tipo agridoce, adocicado mas ao mesmo tempo ácido.

O ponto chave da relação de um técnico com seus liderados é a confiança mútua. A equipe precisa confiar em seu líder e acreditar que todo o sofrimento imposto tem como objetivo o desenvolvimento e o sucesso. Por outro lado, o líder precisa confiar em seus liderados e acreditar que eles estão totalmente alinhados com seus objetivos.

Para obter a confiança da equipe não é necessário ser amável o tempo todo. Na verdade, muitos dos grandes técnicos que conhecemos passam longe da definição de amável. O mais importante é ser previsível, coerente e justo. É seguir um conjunto simples e direto de valores positivos em todas as suas decisões, reagindo de maneira clara e objetiva ao desenrolar dos fatos.

Um líder que é sempre amável (doce) dificilmente irá mover seus liderados além dos limites. Para levá-los a novos patamares ele precisa demonstrar sua acidez (dureza) e discutir de forma clara e objetiva os erros e acertos de sua equipe. Se está errado ele precisa dizer isso sem meias palavras. Se há maneiras de fazer melhor, precisa criticar a forma como foi feito. Se faltou empenho e atenção, isso precisa ser dito e discutido.

A acidez do líder cria o movimento e faz com que as pessoas se desenvolvam. Sua doçura cura as feridas causadas pelas lutas do dia a dia e reforça o cimento da confiança que a equipe tem em sua liderança.

Desenvolver atletas é como desenvolver funcionários e líderes empresariais são como técnicos de futebol. Os uniformes e as regras do jogo são totalmente diferentes, mas as bases do relacionamento entre líder e liderados são exatamente as mesmas.

Se você tem comentários sobre esse ou outro artigo, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br. Terei muito prazer em ler e responder sua mensagem.

Abraços,

PP

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Incerteza do Futuro

Olá,

Uma das habilidades mais presentes na vida dos executivos é a capacidade de antever e se preparar para o futuro. Somos treinados e preparados para prever quanto iremos vender, que produto ou serviço terá mais sucesso, quais as chances de fechar determinado negócio, e assim por diante. Além disso, somos mestres e preparar e executar planos que vão desde algumas semanas até vários anos.

Não há nada de errado em planejar o futuro e se preparar para ele. Ao contrário, é uma das habilidades que qualquer empresa almeja em seus executivos. Mesmo para a vida pessoal, o planejamento e a disciplina com o mesmo podem representar uma vida com menos imprevistos, mais conforto e tranquilidade.

Mas há uma coisa que não podemos nos esquecer jamais. Os planos são apenas o caminho que desejamos seguir no momento inicial da jornada. Ao longo do trajeto, imprevistos irão ocorrer e os planos devem ser ajustados a eles sob o risco de transformarmos desejos em grandes frustrações ou mesmo em pesadelos.

Tomemos o exemplo de um rapaz que acaba de constituir sua própria família e planeja ter filhos e proporcionar a eles conforto e tranquilidade. Um plano simples e muito comum que provavelmente foi, é ou será um dos planos de cada um de vocês.

Como ter filhos é uma coisa mais ou menos natural, esse rapaz concentra toda sua energia na busca da estabilidade financeira para sua família. Ele entende que sem dinheiro não é possível ter conforto no mundo moderno e sai em busca de crescimento profissional e de posições mais valorizadas.

O primeiro filho nasce e esse rapaz, agora já se tornando um senhor de 30 anos, já é gerente de uma grande empresa. Seu salário é suficiente para adquirir seu primeiro apartamento, pequeno mas confortável, em um bairro de classe média. Sua agenda, como de qualquer gerente de médio escalão, é cheia de compromissos e se estende muito além do horário comercial. Sobra pouco tempo para apreciar seu filho e mesmo a esposa ele vê somente algumas vezes por semana.

O tempo passa, o salário aumenta e a família cresce. O filho mais velho já é um meninão e o segundo filho, recém-chegado, já se aloja no quarto do irmão com um grande intruso. O apartamento é trocado por um maior, mais confortável e em um bairro mais nobre. A família compra seu segundo carro e o primeiro é substituído por um modelo mais novo e maior.

Tudo parece correr as mil maravilhas, totalmente dentro dos planos, não fosse um detalhe fundamental: os já dez anos de dedicação intensa ao trabalho feriram de morte a relação do casal e por mais que eles tentem reaver a relação inicial, não existe mais volta. Eles decidem se separar.

O Plano inicial de ter uma família feliz e uma vida confortável desmorona em apenas uma semana. O carinho se transforma em ressentimento, os advogados entram em cena para definir o novo arranjo a ser implantado. O apartamento novo fica com a mãe e com os filhos, os carros são divididos, uma pensão é definida para dar sustento e educação aos meninos, e uma agenda de visitas aos filhos é estabelecida. O que era para ser uma família se transforma em um contrato de convivência forçada e na necessidade pensar em um novo plano.

A história que acabo de relatar se encaixaria em menor ou maior grau às histórias de muitos executivos que conheci. Na verdade, sem o desfecho que apresento, se aproxima até mesmo de minha própria história e, tenho certeza, provavelmente na de muitos de vocês.

A pergunta que fica é o que aconteceu de errado? Por que um plano tão simples e despretensioso pode dar tão errado?

A resposta me parece estar no foco demasiado no plano em si em detrimento do objetivo final. Nossa vontade de fazer do nosso jeito e de mostrar que estamos certos faz com que esqueçamos do mais importante, o nosso objetivo.

Quando isso acontece, a criatura (nosso plano) escraviza o criador e somos levados a caminhos que nunca imaginamos percorrer.

É preciso aceitar que o futuro é incerto e que não temos como planejar tudo com detalhes. Se não somos capazes de garantir que estaremos vivos amanhã, como podemos acreditar em nossos planos ao ponto de abandonar o presente e se concentrar somente no futuro?

Planejar é saudável e, como disse no início, pode ajudar a ter uma vida mais tranquila. No entanto, é preciso viver a única coisa que temos como certa que é o momento presente. Ele não pode ser substituído nem recuperado. Ele existe por uma fração de segundo e se transforma em passado, deixando em nossa memória uma marca indelével, que pode ser boa ou má dependendo de nossa atitude perante o evento.

Viver o presente com plenitude deve ser sempre nosso maior objetivo. Compatibilizar o prazer de viver o presente com a preparação do futuro deve vir em seguida.

O olho no futuro nos ajuda a limitar o desejo pelo prazer imediato e, mais importante, nos faz sentir prazer em viver as dificuldades. Por outro lado, pensar somente no futuro nos faz perder a beleza do momento presente e não garante que o futuro ocorra.

Mais uma vez, os princípios e valores voltam a cena. Eles são a principal ferramenta para guiar nossos planos futuros e nosso comportamento no presente.

Sempre planeje seu futuro guiado por seus princípios e valores, dessa forma você garante que seu plano o leva a seu objetivo maior de vida. Durante toda a vida, verifique se seu plano continua alinhado com eles e, caso note algum desvio, faça os ajustes devidos.

Mas não se esqueça de viver intensamente o presente pois, como disse anteriormente, ele é sem dúvida a coisa mais importante de nossas vidas.

Para saber se sua atitude no presente está alinhada com seus planos, consulte seu conjunto de valores e princípios. Se o seu prazer imediato está alinhado com eles, viva-o com intensidade e desfrute desse momento. Caso contrário, coloque foco nos seus objetivos de longo prazo e em seu plano de ação.

As dicas acima não são certeza de um futuro melhor, afinal incerteza e futuro são conceitos intimamente conectados. No entanto, podem ajudar muito a viver melhor o presente e a aumentar as chances de termos mais momentos felizes no futuro.

Se você tem comentários a fazer sobre esse e outros artigos, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br. Terei muito prazer em respondê-los.

Abs.

PP