terça-feira, 3 de junho de 2008

O Medo dos Treinamentos Comportamentais

Olá,

Faz alguns anos que me dedico ao estudo do comportamento das pessoas no ambiente de trabalho. Durante esse tempo tive a oportunidade de participar como liderado, como líder e como consultor de vários treinamentos comportamentais. Por experiência própria, posso afirmar que esse tipo de iniciativa, quando conduzida por pessoas competentes, produz impactos profundos no comportamento e na produtividade das pessoas.

Apesar dos efeitos positivos que podem ser obtidos com treinamentos comportamentais, ainda existem muitas dúvidas por parte de alguns executivos sobre a eficácia dos mesmos e gostaria de conversar um pouco sobre os motivos para tal desconfiança.

O primeiro motivo, e para mim o mais importante, está relacionado com o preconceito natural que temos de coisas que não conhecemos bem.

Apesar de sermos seres sociáveis e de precisarmos conviver com outras pessoas a maior parte de nossa vida é interessante notar que quase nada aprendemos sobre relacionamentos durante nossa vida acadêmica. Passamos mais de 15 anos na escola e nada ou quase nada nos é ensinado sobre o comportamento humano e suas conseqüências nos relacionamentos e nos resultados.

Mesmo as iniciativas mais incipientes de treinar o relacionamento e o trabalho em equipe são normalmente boicotadas e mal direcionadas, como o exemplo dos famosos trabalhos em grupo onde é muito comum que uma ou duas pessoas façam todo o trabalho e os outros simplesmente recebam suas notas. Como resultado, uma atividade que deveria ajuda a consolidar a importância do trabalho em equipe se transforma em uma demonstração de que o trabalho solitário e mais eficiente e de que os grupos são ingerenciáveis.

É um verdadeiro milagre que com tão pouco treinamento sobre os temas comportamentais e de relacionamento as empresas ainda consigam obter algum resultado nessas áreas. Somente o fato dos seres humanos serem sociáveis por natureza explica esse fenômeno.

Por conta dessa ausência quase total de treinamento durante a vida acadêmica, não é de se surpreender que pessoas inteligentes e bem formadas sejam uma verdadeira negação no que diz respeito a questões como auto-conhecimento e capacidade de se relacionar com os outros.

Ao mesmo tempo, é bastante normal que essas pessoas vejam qualquer treinamento nas áreas de comportamento humano como sendo algo distante demais de suas realidades. Mais ou menos como pedir a uma criança de 7 anos que goste de comer brocolis ou alface pela primeira vez.

O medo do desconhecido é para mim o grande bloqueador para que executivos utilizem mais os treinamentos comportamentais em suas estratégias para otimizar os resultados de suas organizações.

Mas não é só o medo do novo que faz os executivos serem tão tímidos com treinamentos comportamentais. Existe também o trauma de ter sido vítima de profissionais pouco preparados, que fazem trabalhos superficiais ou mesmo apelativos, que pouco ou nada acrescentam de prático no dia a dia profissional das organizações.

Iniciativas muito voltadas ao espírito de aventura e à tentativa de convencer que somos capazes de fazer qualquer coisa, basta desejar, são pouco produtivas e muitas vezes trazem mais prejuízos do que benefícios. Além disso, dinâmicas divertidas e lúdicas sobre relacionamentos e comportamentos feitas sem a devida reflexão ao final do processo vão muito pouco além do simples divertimento.

Um trabalho de desenvolvimento de pessoas e de equipes deve ser mais completo, incluindo atividades em grupo acompanhadas por rodadas de reflexão sobre os objetivos de cada trabalho e sobre as mensagens que se deseja passar. Ele deve ser complementado ainda com atividades de acompanhamento, que permitam as pessoas treinarem suas novas habilidades e observarem os resultados obtidos. Finalmente, perceber que o aprendizado não é uniforme entre as pessoas e que é necessário dar atendimento individualizado aos que apresentam maiores dificuldades é fundamental para o sucesso de um programa de desenvolvimento.

Se por um lado podemos ter grandes benefícios trabalhando a questão comportamental, a frustração com um trabalho mal conduzido ou superficial pode fazer com que esse tipo de iniciativa seja totalmente banida das práticas de desenvolvimento de uma organização. É muito triste reconhecer isso, mas o fato é que ocorre a todo momento.

Apesar dos motivos acima serem verdadeiros, não devem ser fortes o suficiente para impedir que as empresas invistam mais em treinamentos comportamentais. Ao contrário, devem ser pontos a considerar no processo de avaliação de alternativas.

Se o bloqueador é o medo do novo e do desconhecido, comece estudando um pouco mais o assunto e buscando referências em empresas que já aplicaram esse tipo de treinamento com sucesso. Converse com pessoas que já participaram em processos similares. Entenda que benefícios elas perceberam com o trabalho. Dessa forma você irá reduzir seus receios e ganhar coragem para enfrentar o novo.

Se o bloqueador está associado a experiências negativas no passado, procure obter mais referências sobre os fornecedores de consultoria do mercado. Se possível, peça para que eles o apresentem detalhadamente seus planos de trabalho e avalie especialmente os seguintes pontos:

- Referências positivas em trabalhos similares em outras empresas;
- Formato e conteúdo dos trabalhos em grupo;
- Experiência dos profissionais envolvidos;
- Processo de acompanhamento das atividades após os encontros em grupo;
- Processo de atendimento personalizado aos indivíduos com maior dificuldade.

Tomando alguns cuidados você poderá ter uma grande ferramenta de desenvolvimento em suas mãos. Vale a pena tentar.

Se você possui comentários sobre esse artigo, por favor envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br.

PP

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