segunda-feira, 23 de março de 2009

A Tirania dos Indicadores

Olá,

Antes de iniciar esse artigo é necessário dizer que não sou contra os processos de medição de resultados nas empresas. Ao contrário, sou daqueles que adoram identificar tendências a partir da medição de resultados e reconheço que os indicadores de desempenho são uma ferramenta extremamente útil para o acompanhamento dos resultados das empresas.

Meus problemas com os indicadores surgem quando eles passam a ser mais importantes do que a própria operação, criando grandes distorções na forma como as pessoas se comportam, o que acontece com mais frequência do que se imagina.

Por mais elaborados que sejam os indicadores de performance, não se pode medir o sucesso de uma organização olhando somente para a evolução de seus indicadores ao longo do tempo. É importante entender o que está por trás de cada variação, identificando os motivos que levaram aos resultados obtidos.

Uma empresa pode ter seu faturamento crescente sem que isso represente que seu lucro será igualmente positivo. Mesmo que seu lucro acompanhe o crescimento do faturamento, isso não significa que essa empresa possui uma estratégia sustentável e seu faturamento e lucro podem
cair rapidamente e sem explicação em um par de meses.

Não há exemplo mais atual do que a grande crise financeira que vivemos. Até meados do ano passado os grande bancos de investimento davam as cartas do mercado, definindo o valor das empresas, das commodities e de quase tudo na economia. Seus indicadores eram fantásticos e sempre crescentes, um verdadeiro exemplo de empreendedorismo, e poucos tinham a coragem de dizer que essa aparente fortaleza escondia um grande castelo de cartas.

Durante vários anos os executivos das instituições financeiras ganharam bônus inacreditáveis por fazerem com que os indicadores de performance dessas organizações batessem recordes todos os trimestres. Vários deles foram capas de importantes revistas de negócios, apresentados como os grandes gênios do mercado financeiro.

Hoje, depois que o castelo de cartas veio abaixo, ficamos sabendo como os indicadores eram manipulados de forma amoral, fazendo com que os resultados fossem inflados com negócios podres, sem qualquer chance de trazer resultados verdadeiros para as instituições.

Estavam os indicadores errados? Eram mal elaborados? Foram calculados de forma incorreta?

A verdade é que não existem indicadores perfeitos e eles estão sempre sujeitos a algum tipo de manipulação. Além disso, por mais que sejamos criativos na criação e desenvolvimento dos indicadores, nunca seremos capazer de reduzir a complexidade de uma grande organização a um punhado de indicadores. Isso é impossível, e a crise fez o favor de nos lembrar dessa impossibilidade.

Volto a afirmar que não sou contra o uso de indicadores, afinal eles são indispensáveis na gestão de uma empresa. Apenas não podemos nos esquecer de que os indicadores são gerados a partir de milhares e milhares de eventos, que podem esconder muita informação relevante, desconsiderada durante o processo de cálculo dos indicadores.

Saber analisar o que está por baixo dos indicadores pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso e deveria ser obrigação de todo executivo responsável por uma organização. Ocorre que para isso é necessário conhecer profundamente a operação da empresa e dá bastante trabalho. É preciso questionar as pessoas; ouvir explicações; desafiar as incoerências; e ter coragem de agir.

É muito mais fácil aceitar os indicadores como a única fonte de informação sobre os resultados da empresa. Se eles são ruins, as pessoas estão trabalhando de forma equivocada e mudanças devem ser realizadas. Se são bons, a estratégia está funcionando e as pessoas devem ser recompensadas.

O problema é que os indicadores podem esconder uma realidade bem diferente.

Uma empresa pode estar com seu faturamento crescente mas perdendo seus clientes mais valiosos. Seu lucro pode estar crescendo, mas as custas de uma inadimplência explosiva ou de uma queda na qualidade do serviço que irá cobrar sua conta em breve. Ao mesmo tempo, uma empresa pode ter seu faturamento e lucros reduzidos por conta de um reposicionamento de mercado que garantirá seu futuro pelos próximos dez anos.

Os grandes executivos não se curvam diante da tirania dos indicadores. Eles são críticos tanto com os resultados positivos quanto os negativos. Querem saber mais sobre cada número e entender o que está por trás de cada um dos indicadores.

Se você tiver comentários sobre esse e outros artigos, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br.

PP

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