quinta-feira, 27 de março de 2008

Excelentes Executivos e Péssimos Pais

Olá,

A maioria dos executivos se considera capaz de lidar com várias coisas ao mesmo tempo e se julga um bom administrador de prioridades. Uma breve avaliação de suas agendas e de seus resultados comprova que esses atributos são realmente comuns nas pessoas com maior sucesso em suas carreiras.

Mas se é verdade que esses executivos são capazes de administrar altos volumes de trabalho e, ao mesmo tempo, priorizar o que é mais importante, por que será que existem tantos filhos de executivos que se ressentem da falta de presença de seus pais? Pior ainda, por que tantos executivos são forçados a lidar com verdadeiras rupturas de relacionamento com seus próprios filhos? Sendo os filhos uma de nossas maiores prioridades, não seria incoerente chegar a esse tipo de situação?

A verdade é que todos temos limitações em nossa capacidade de administrar responsabilidades e suas prioridades. Por mais organizados que sejamos, a partir de determinado momento, somos incapazes de atender a todas as demandas que surgem e começamos a transbordar, como uma caixa de água que recebe mais líquido do que é capaz de consumir. Ainda que sejamos hábeis em deixar por último as questões menos relevantes, aos poucos somos levados a uma situação em que descartamos também o que é fundamental e é quando os grandes problemas começam a acontecer.

No exemplo da relação entre o trabalho e os filhos essa limitação fica mais do que clara. A não ser em casos muito especiais, ninguém abandona seus filhos por não considerá-los importantes. Ao contrário, é a importância deles que faz com que muitos executivos trabalhem incansavelmente, sempre em busca de garantir o conforto e a segurança que eles merecem ter. Como conseqüência, convivem pouco com seus próprios filhos, deixando-os com a impressão de não serem tão importantes assim.

Durante a infância essa ausência e normalmente negligenciada pelos pais, que entendem que no futuro terão mais oportunidades de conviver com seus filhos. A experiência mostra, no entanto, que esse afastamento se aprofunda e, com muita freqüência, se transforma em mágoa e ressentimento. Quando chega a adolescência, as pequenas decepções se transformam em profundas divergências e o relacionamento entre pai e filho é abalado de forma perigosa e muitas vezes irreversível.

Esse fenômeno, que até pouco tempo era quase um "privilégio" dos homens, está se tornando muito comum também entre as mulheres que colocam maior ênfase em suas carreiras profissionais. Ainda que de forma não intencional, estamos criando uma legião de filhos funcionalmente órfãos em nossa sociedade, e isso não é nada bom.

Mesmo que você ache que é capaz de administrar tudo ao mesmo tempo ou que poderá se esforçar um pouco mais agora para aproveitar a convivência com seus filhos no futuro, não se engane. Cada momento de convivência que você deixar de ter no presente será perdido e não retornará nunca mais. Por mais cruel e pessimista que possa parecer essa afirmação, não existe garantia nenhuma de que você terá um futuro a ser compartilhado com o seu filho e cada momento deve ser aproveitado da melhor maneira possível.

Quando a necessidade de prover conforto e segurança o impelir a trabalhar muito mais do que o desejável, lembre-se de que a criança acompanhada de seu pai se sente mais segura, independente de qual seja o nível de perigo a que esteja submetida. Lembre-se também de que as coisas mais importantes de nossa vida são grátis e não precisam e nem podem ser compradas. Um passeio no parque, uma luta no colchão do quarto, ver as nuvens mudando de formato, sentir o balançar de um colo macio e acolhedor, são experiências muito mais importantes do que qualquer bem material que possa ser comprado.

Se você ainda tem dúvidas, fale com seus colegas mais velhos. Ouça as estórias que eles têm para contar e não subestime a importância desse tema.

Ser um bom pai, ou mãe, não é tão difícil assim, mas exige dedicação e tempo disponível. Não é uma questão de colocar seus filhos na lista de prioridades pois eles provavelmente já estão. A questão é colocar a convivência e o relacionamento com eles nessa lista em posição mais alta do que a obtenção pura e simples de bens materiais que os possam dar conforto e segurança.

Se você tem comentários sobre esse tema ou alguma estória para contar, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br.

PP

Um comentário:

  1. Olá Paulo,
    Tenho acompanhado seus posts, e esse tema compartilha mto da minha opiniao tambem, apesar d eu nao ter filhos, acredito q o acompanhamento dos pais sao de importancia vital para o desenvolvimento e equilibrio emocional de uma criança.
    Enfim, parabens por todos os posts... sao otimos.
    Um forte Abraço
    Bete

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