quarta-feira, 12 de março de 2008

O Executivo e sua Auto-imagem

Olá,


Você já teve a oportunidade de ouvir sua própria voz em alguma gravação. Se teve, provavelmente se surpreendeu com a diferença entre a gravação e a percepção que você tem sobre sua própria voz.

É uma sensação realmente estranha. A diferença entre as vozes é grande e nossa primeira reação é de negar que aquela seja nossa voz. No entanto, dependendo da qualidade do gravador, a voz proveniente do aparelho é muito mais próxima da que as outras pessoas ouvem do que a de nossa própria audição.

Paralelo semelhante podemos fazer sobre a imagem que criamos de nós mesmos, quando confrontada com a percebida pelas outras pessoas. Não estou falando aqui da imagem física, mas da que descreve nossas atitudes, nossas virtudes e nossas falhas.

A grande maioria das pessoas possui uma auto-imagem bastante diferente daquela que percebida pelas pessoas com quem convivem, e isso gera muitos problemas de comunicação e de relacionamento.

Tomemos o exemplo de um executivo que se avalie como participativo e democrático. Para ele, não existe decisão em sua organização que não seja amplamente discutida e, portanto, suportada por todos. Sua auto-imagem é de um executivo que valoriza a participação de todos no processo de decisão e cuja decisão final procura sempre atender ao consenso da maioria.

Pois é. Existe uma grande chance que esse mesmo executivo seja avaliado por seus subordinados o mesmo superiores como sendo autoritário e com capacidade limitada de aceitar a opinião dos outros.

Mas o que será que cria tamanha desconexão?

Em primeiro lugar, está a falta de hábito que a maioria das pessoas tem de "ouvir" sua imagem a partir dos outros. Normalmente ficamos satisfeitos com nossas percepções sobre como nos comportamos e esquecemos de verificar quais foram as reações das outras pessoas. Quanto menos nos preocupamos em entender as percepções dos outros, mais nos convencemos de que estamos corretos, até o ponto em que simplesmente recusamos qualquer comentário que negue nossas próprias percepções. Quando chegamos a esse ponto de "surdez", criamos o cenário perfeito para casos como o relatado acima.

Em segundo lugar está a nossa capacidade de desenvolver justificativas para tudo o que incomoda em nosso próprio comportamento. Se somos muito autoritários, dificultando a participação das pessoas nos processos de decisão, preferimos atribuir a ausência de participação à apatia das pessoas ou ao pouco interesse das mesmas. Se recusamos todas as idéias que nos são apresentadas, preferimos acreditar que elas não seriam boas o suficiente do que admitir que não fomos capazes de perceber o seu real valor.

Seja por um motivo ou pelo outro, pessoas que deixam de "ouvir" sua imagem através dos outros, se afastam da realidade e perdem uma grande oportunidade de desenvolverem o verdadeiro auto-conhecimento. Em vez disso, criam uma imagem fantasiosa de si mesmos, gerando muitos problemas de relacionamento.

Conhecer a si mesmo é muito importante para o sucesso de qualquer executivo. Mas a única maneira de conhecermos a nós mesmos é através do exercício de perceber a reação dos outros a nossos próprios comportamentos. Somente percebendo o impacto que somos capazes de gerar nas outras pessoas é que somos capazes de avaliar o que realmente somos. Caso contrário, ficaremos para sempre "ouvindo" uma imagem distorcida de nossos comportamentos e atitudes.

Se você tem algum comentário ou sugestão sobre esse tema, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.b.

PP

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