terça-feira, 20 de maio de 2008

Derrubando Mitos

Olá,

Sempre gostei de ler livros sobre negócios, mas confesso que me incomodava a maneira como a maioria das empresas citadas como de sucesso nos livros acabavam se mostrando não tão bem sucedidas assim alguns anos depois.

Com o passar do tempo, passei a concentrar minha leitura nas principais mensagens, já que a maioria fazia algum sentido para mim, e deixar de lado as longas histórias sobre como as empresas haviam conseguido sucesso através de estratégias inteligentes e por contar com líderes especiais.

Mas bem no fundo ficava uma grande dúvida. Se as empresas ditas de sucesso acabavam falhando alguns anos depois dos livros publicados, será que as virtudes relatadas pelos autores como provocadoras desse sucesso eram realmente o que as fazia melhores do que as outras? Será que elas eram realmente melhores do que as outras empresas? E se fossem, o que teria ocorrido para que o sucesso passado se transformasse em fracasso em tão pouco tempo?

Foi no livro "Derrubando Mitos" de Phil Rosenzweig, publicado pela Editora Globo que encontrei a melhor análise sobre os motivos que levaram a vários livros de negócios cometerem tantas falhas de avaliação sobre o desempenho das empresas e dos motivos que as levavam a serem mais bem sucedidas do que outras.

O livro explora nove equívocos que freqüentemente levam profissionais renomados a avaliar de maneira equivocada os motivos que levam a um desempenho superior. Nas próximas linhas, procuro explicar um pouco esses motivos mas para aqueles que se interessarem no assunto, recomendo fortemente a leitura do livro.

Primeiro Equívoco: O efeito Aura

Refere-se a tendência que temos em avaliar positivamente fatores complexos como cultura, liderança, valores e estratégia quando nos referimos a uma organização cujo desempenho seja publicamente considerado superior. O mesmo se aplica no sentido inverso, tornando-nos muito mais críticos em nossas avaliações sobre esses mesmos fatores quando nos referimos a empresas que enfrentam dificuldades.

O efeito Aura faz com que empresas de alto desempenho nos pareçam mais bonitas e competentes do que realmente são, enquanto empresas de baixo desempenho tenham suas fraquezas enfatizadas e suas virtudes reduzidas de maneira artificial.

Segundo Equívoco: Correlação e Causalidade

O fato de haver correlação entre dois fatores não necessariamente quer dizer que um possui relação de causa em relação ao outro. O fato de os empregados de uma empresa com desempenho superior serem mais satisfeitos do que os de uma empresa com desempenho inferior não significa necessariamente que ter empregados satisfeitos faz os resultados melhorarem. A experiência sugere, ao contrário, que o sucesso da empresa tem mais impacto na satisfação dos empregados do que a satisfação dos mesmos nos resultados.

Identificar verdadeiras relações de causalidade não é tarefa fácil, especialmente em áreas relacionadas com as ciências sociais.

Terceiro Equívoco: Explicações Simples

Muitos estudos e livros apontam fatores individuais como cultura, foco no cliente e liderança como determinantes para um desempenho superior, mas as organizações não são tão simples assim. Dezenas ou centenas de fatores se combinam e se correlacionam para gerar determinado resultado e os estudos mais sérios demonstram que fatores isolados possuem impacto relativamente modesto sobre os resultados de uma organização.

Quarto Equívoco: Ligar os Pontos Vencedores

O processo de selecionar um conjunto de empresas vencedoras e identificar o que as mesmas possuem em comum não ajuda a entender as razões do seu sucesso pois não há como compará-las com empresas de menor sucesso. Muitos livros e estudos sobre o desempenho das empresas cometem esse erro e chegam a conclusões pouco confiáveis.

Quinto Equívoco: A Pesquisa Rigorosa

A maioria dos livros e trabalhos enfatizam sua preocupação em coletar um conjunto amplo de dados sobre as empresas que avaliam. No entanto, se esses dados não forem de boa qualidade e estiverem impregnados pelos efeitos das Auras (Equívoco 1), de nada vale ter rigor no processo de coleta e análise.

Sexto Equívoco: O Sucesso Duradouro

Quase todas as empresas de alto desempenho passam por dificuldade em algum momento de sua história. A promessa de sucesso duradouro, defendida em alguns livros, é atraente mas não é realista.

Sétimo Equívoco: O Desempenho Absoluto

O desempenho de uma empresa é relativo, e não absoluto. Uma empresa pode melhorar seu desempenho e mesmo assim continuar sendo menos competitiva do que a média de mercado. A medida absoluta do desempenho não reflete o sucesso de uma organização.

Oitavo Equívoco: A Ponta Errada do Bastão

Pode ser verdade que muitas empresas de sucesso tenham perseguido estratégias altamente focadas, mas isso não significa que estratégias altamente focadas levem necessariamente ao sucesso como é defendido por alguns autores. Uma estratégia inadequada para determinado momento de mercado, ainda que focada, pode ser altamente prejudicial para os resultados de uma empresa.

Nono Equívoco: A Física Organizacional

Apesar de nosso desejo de certeza e de ordem, o desempenho de uma empresa não obedece leis imutáveis e bem definidas como na física. Não é possível prever o resultado de uma organização de maneira precisa a partir da avaliação de determinados fatores, muito menos quando falamos ao longo de vários anos.

A próxima vez que você ler um livro ou um artigo que fale sobre os fatores que levam ao sucesso no mundo dos negócios, avalie se o mesmo não está cometendo um ou mais dos equívocos citados acima. Se estiver, leia-o com uma visão um pouco mais crítica e considere suas conclusões com um pouco mais de cautela.

Se você tiver comentários sobre esse tema, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br

PP

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