domingo, 2 de março de 2008

Saber Ouvir

Olá,

Já tive a oportunidade de falar sobre a tendência dos executivos em se acharem certos na maioria das ocasiões. Apesar de não parecer politicamente correta, essa características traz vários benefícios a sua carreira, pois aumenta sua auto-estima e o faz ser mais assertivo em suas idéias durante negociações ou quando enfrentam situações de crise.

Mas não são somente coisas boas que a auto-confiança exagerada traz para o mundo corporativo. Na maioria das vezes, ela vem acompanhada de uma diminuição forte na capacidade de ouvir e aceitar a opinião dos outros, o que faz com que as decisões do dia a dia sejam demasiadamente centradas na opinião do próprio executivo.

Por melhor e mais preparado que seja o executivo, decidir sem levar em consideração a opinião de outras pessoas aumenta sua possibilidade de falhar e diminui suas chances de ser mais efetivo. Além disso, corroe sua relação com as pessoas que o cercam e vai tornando-o isolado e mal visto pela maioria.

É interessante notar como a não capacidade de ouvir de executivos bem sucedidos é suavizada por muitos e entendida como assertividade, capacidade de liderança e determinação. É como se as pessoas se recusassem a acreditar que uma falha aparentemente tão grave simplesmente não pudesse ser parte de um executivo que alcança sucesso.

Saber ouvir é uma das características que ao meu ver separa o verdadeiro grande executivo dos diversos factóides que andam a solta no mercado. Simplesmente me recuso a acreditar que uma pessoa que tenha dificuldades em ouvir e aceitar outras opiniões possa ser classificada como um grande executivo, mesmo que sejam exemplos que apareçam nos meios de comunicação mais respeitados. Para mim, esses indivíduos devem seu grande sucesso a uma ou mais pessoas que, por debaixo das luzes da ribalta, passam os dias arrumando a bagunça que tais personalidades criam na organização.

Ouvir é uma das formas mais eficazes de aprender e de absorver novos esquemas de pensamento. É uma oportunidade de sair da prisão imposta por nossos próprios paradigmas e de ter contato com novas formas de pensar e de perceber as coisas.

Um bom ouvinte abre sua mente e faz com que a informação recebida essa seja a matéria prima principal de seus pensamentos durante um diálogo. Em vez de buscar argumentos para negar o que acaba de ouvir, se concentra em entender o que está sendo dito e em correlacionar essa informação com suas idéias e conceitos já estabelecidos. Em vez de responder imediatamente, o bom ouvinte reflete sobre o que acabou de ouvir, faz perguntas para entender melhor o que ainda não lhe parece claro, e acolhe as novas idéias e conceitos, mesmo que ainda não pareçam totalmente coerentes.

Um bom ouvinte aprende com os outros e não somente consigo mesmo. Ele tem mais oportunidades de evitar erros do que aquele que simplesmente não ouve ou filtra demasiadamente o que ouve. Mesmo quando erra está mais predisposto a reconhecer e até mesmo compreender seus erros, pois conta não somente com sua capacidade de observação mas também de todos aos quais escuta ativamente.

Saber ouvir não é tarefa fácil. Nossas mentes são em geral muito barulhentas e agitadas e é natural que sua predileção seja por exteriorizar os pensamentos e idéias que nelas borbulham intensamente. Um boa forma de auxiliar o processo de audição passa por acalmar nossas mentes e controlar o ímpeto de falar sempre que ouvimos alguma coisa. O silêncio e a reflexão são irmãos e nos ajudam a aumentar nossa capacidade de ouvir.

Procure se observar durante os diálogos de seu dia a dia no trabalho. Repare se você está realmente ouvindo o que os outros dizem, ou simplesmente preparando sua próxima fala. Se isso estiver acontecendo, procure mudar seu jeito de conversar e dê mais prioridade ao processo de ouvir do que ao de falar. Abaixo passo algumas dicas que tenho utilizado com algum sucesso:

1) Procure não responder a tudo que ouve. Em vez disso, tente pensar no que acaba de ouvir e procure encontrar algum sentido no que está sendo dito, mesmo que ao princípio pareça não haver.

2) Se você não entendeu bem o que foi dito, pergunte. Mas pergunte para entender, e não para afirmar algo ou para levar a conversa a outro assunto.

3) Antes de tomar uma decisão, crie o hábito de validá-la com algumas pessoas. Sem mesmo dizer o que pensa em fazer, pergunte o que elas fariam em seu lugar e quais os motivos que a fariam decidir dessa maneira. Você vai se surpreender com informações relevantes que nem passaram pela sua cabeça durante o processo de decisão. Depois disso, discuta com elas suas intenções e não tenha medo de reformar suas decisões se parecer fazer sentido.

4) Quando notar que pensou algo de maneira errada ou que esqueceu de alguma informação que acaba de ouvir, procure ser sincero e compartilhar sua falha com seus interlocutor. O exercício de reconhecer publicamente que ter ouvido o fez mudar de opinião alivia a tensão de errar e reforça a importância de ouvir.

5) Se observe e perceba como as coisas ficam mais fáceis quando se ouve.

Se você tem outras sugestões sobre como ouvir melhor ou comentários sobre os efeitos de não ouvir na carreira dos executivos envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br.

PP

Um comentário:

  1. Embora não seja um executivo, meu foco de atuação é o desenvolvimento e manutenção de ambientes para internet, achei as informações muito pertinentes. As dicas e observações são de grande aplicação para minha área também.

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