segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A Mediocridade da Busca pela Razão

Olá,

Outro dia ouvi uma frase que me fez refletir sobre a força com que defendo meus pontos de vista em algumas ocasiões. Ela dizia mais ou menos o seguinte: Querer ter sempre razão é uma grande prova de mediocridade.

Sendo uma pessoa muito incisiva e que defende seus pontos de vista com força e um arsenal de argumentos, por uns momentos me senti a beira do rótulo de medíocre. Instintivamente procurei negar o conteúdo da frase, buscando situações que pudessem negar afirmação tão especialmente incômoda para quem está acostumado a buscar sempre ter razão nas discussões.

Minha busca foi infrutífera. A cada tentativa de argumento, mais me convencia de que realmente querer ter razão em nada ajuda no processo de buscar soluções ou acordos. Ao contrário, aumenta substancialmente o risco de que mudanças ocorram e de que bons acordos se concretizem.

Mas o que a busca pela razão tem a ver com a mediocridade? Não seriam as pessoas que possuem a razão na maioria dos casos mais inteligentes e conhecedoras do que as outras?

Depois de alguma reflexão minha conclusão é de que ter a razão é uma estado extremamente relativo e circunstancial. A complexidade e a dinâmica da vida e dos relacionamentos impede que, na grande maioria das vezes, seja possível definir com certeza o que está certo e o que está errado. A melhor posição perante análises antagônicas dos fatos é quase sempre no meio dos extremos, ora um pouco para um lado, ora para o outro, mas dificilmente se apresenta francamente para um dos lados.

Analisemos uma discussão típica de trânsito, em que um motorista bate na traseira do outro devido a uma freiada brusca do que está a frente. Se por um lado é obrigação do motorista que está atrás manter a distância para evitar a batida, o trânsito caótico e acelerado das grandes cidades classificaria como roda presa um motorista que mantivesse uma distância totalmente segura do que está a frente. Por outro lado, não se pode condenar um motorista por efetuar uma freiada brusca quando uma criança atravessa a rua na frente de seu carro.

Querer ter a razão em uma discussão de trânsito pode levar a discussões acaloradas, muitas vezes com consequências maiores do que o próprio incidente. Sem dúvida, uma situação que se aproxima da mediocridade.

Quando nos deslocamos para o ambiente corporativo, a discussão da razão costuma tomar uma dimensão muito maior. Discutimos de forma incisiva a responsabilidade pelos fracassos e sucessos, a intenção e a competência das pessoas, a maneira de resolver problemas, e um número enorme de outras situações.

Sendo um ambiente naturalmente competitivo, a maioria das discussões deixam de lado o objetivo inicial rapidamente e se tornam verdadeiras batalhas para definir quem tem a razão sobre determinado assunto. Discutimos horas para identificar quem possui a razão e deixamos de lado o problema a ser resolvido ou a proposta a ser construída. Perdemos um tempo valioso em discussões medíocres e não conseguimos melhorar em nada a performance da organização.

Os dois parágrafos anteriores, ainda que curtos, são suficientes para mostrar que discussões para saber quem possui a razão são improdutivas e quase sempre sem final feliz. Assim sendo, devem ser evitadas sempre que possível.

Ao refletir sobre a luta pela razão, identifiquei alguns desfechos comuns de ocorrer e que gostaria de compartilhar com vocês.

1) Um lado sai francamente vitorioso por sua maior capacidade de argumentos, deixando o outro lado em situação de quase humilhação e com um grande ressentimento. A decisão é tomada em favor do mais forte, o que muitas vezes pode representar um grande erro.

2) Os dois lados se declaram vencedores, deixando de lado o objetivo inicial de encontrar uma solução para o problema. Nesses casos, é comum não se tomar decisão alguma, postergando a solução para o impasse.

3) Um dos lados nota que a luta pela razão é inoportuna e muda o rumo da discussão. O foco do debate volta para o problema a ser resolvido e, na maioria das vezes, se encontra uma solução de consenso.

Acho que todos irão concordar que a terceira opção é mais construtiva e gera menos desgaste.

Na próxima vez em que você notar que está participando de uma discussão para definir quem está com a razão, lembre-se da frase apresentada no início desse artigo. Se não quiser fazer parte de um jogo de mediocridade, deixe de lado o seu orgulho e cesse a discussão ou faça com que ela mude de direção. Vai ser mais produtivo para todos.

Se você tiver comentários ou exemplos sobre esse e outros temas, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br.

PP

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