terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Incerteza do Futuro

Olá,

Uma das habilidades mais presentes na vida dos executivos é a capacidade de antever e se preparar para o futuro. Somos treinados e preparados para prever quanto iremos vender, que produto ou serviço terá mais sucesso, quais as chances de fechar determinado negócio, e assim por diante. Além disso, somos mestres e preparar e executar planos que vão desde algumas semanas até vários anos.

Não há nada de errado em planejar o futuro e se preparar para ele. Ao contrário, é uma das habilidades que qualquer empresa almeja em seus executivos. Mesmo para a vida pessoal, o planejamento e a disciplina com o mesmo podem representar uma vida com menos imprevistos, mais conforto e tranquilidade.

Mas há uma coisa que não podemos nos esquecer jamais. Os planos são apenas o caminho que desejamos seguir no momento inicial da jornada. Ao longo do trajeto, imprevistos irão ocorrer e os planos devem ser ajustados a eles sob o risco de transformarmos desejos em grandes frustrações ou mesmo em pesadelos.

Tomemos o exemplo de um rapaz que acaba de constituir sua própria família e planeja ter filhos e proporcionar a eles conforto e tranquilidade. Um plano simples e muito comum que provavelmente foi, é ou será um dos planos de cada um de vocês.

Como ter filhos é uma coisa mais ou menos natural, esse rapaz concentra toda sua energia na busca da estabilidade financeira para sua família. Ele entende que sem dinheiro não é possível ter conforto no mundo moderno e sai em busca de crescimento profissional e de posições mais valorizadas.

O primeiro filho nasce e esse rapaz, agora já se tornando um senhor de 30 anos, já é gerente de uma grande empresa. Seu salário é suficiente para adquirir seu primeiro apartamento, pequeno mas confortável, em um bairro de classe média. Sua agenda, como de qualquer gerente de médio escalão, é cheia de compromissos e se estende muito além do horário comercial. Sobra pouco tempo para apreciar seu filho e mesmo a esposa ele vê somente algumas vezes por semana.

O tempo passa, o salário aumenta e a família cresce. O filho mais velho já é um meninão e o segundo filho, recém-chegado, já se aloja no quarto do irmão com um grande intruso. O apartamento é trocado por um maior, mais confortável e em um bairro mais nobre. A família compra seu segundo carro e o primeiro é substituído por um modelo mais novo e maior.

Tudo parece correr as mil maravilhas, totalmente dentro dos planos, não fosse um detalhe fundamental: os já dez anos de dedicação intensa ao trabalho feriram de morte a relação do casal e por mais que eles tentem reaver a relação inicial, não existe mais volta. Eles decidem se separar.

O Plano inicial de ter uma família feliz e uma vida confortável desmorona em apenas uma semana. O carinho se transforma em ressentimento, os advogados entram em cena para definir o novo arranjo a ser implantado. O apartamento novo fica com a mãe e com os filhos, os carros são divididos, uma pensão é definida para dar sustento e educação aos meninos, e uma agenda de visitas aos filhos é estabelecida. O que era para ser uma família se transforma em um contrato de convivência forçada e na necessidade pensar em um novo plano.

A história que acabo de relatar se encaixaria em menor ou maior grau às histórias de muitos executivos que conheci. Na verdade, sem o desfecho que apresento, se aproxima até mesmo de minha própria história e, tenho certeza, provavelmente na de muitos de vocês.

A pergunta que fica é o que aconteceu de errado? Por que um plano tão simples e despretensioso pode dar tão errado?

A resposta me parece estar no foco demasiado no plano em si em detrimento do objetivo final. Nossa vontade de fazer do nosso jeito e de mostrar que estamos certos faz com que esqueçamos do mais importante, o nosso objetivo.

Quando isso acontece, a criatura (nosso plano) escraviza o criador e somos levados a caminhos que nunca imaginamos percorrer.

É preciso aceitar que o futuro é incerto e que não temos como planejar tudo com detalhes. Se não somos capazes de garantir que estaremos vivos amanhã, como podemos acreditar em nossos planos ao ponto de abandonar o presente e se concentrar somente no futuro?

Planejar é saudável e, como disse no início, pode ajudar a ter uma vida mais tranquila. No entanto, é preciso viver a única coisa que temos como certa que é o momento presente. Ele não pode ser substituído nem recuperado. Ele existe por uma fração de segundo e se transforma em passado, deixando em nossa memória uma marca indelével, que pode ser boa ou má dependendo de nossa atitude perante o evento.

Viver o presente com plenitude deve ser sempre nosso maior objetivo. Compatibilizar o prazer de viver o presente com a preparação do futuro deve vir em seguida.

O olho no futuro nos ajuda a limitar o desejo pelo prazer imediato e, mais importante, nos faz sentir prazer em viver as dificuldades. Por outro lado, pensar somente no futuro nos faz perder a beleza do momento presente e não garante que o futuro ocorra.

Mais uma vez, os princípios e valores voltam a cena. Eles são a principal ferramenta para guiar nossos planos futuros e nosso comportamento no presente.

Sempre planeje seu futuro guiado por seus princípios e valores, dessa forma você garante que seu plano o leva a seu objetivo maior de vida. Durante toda a vida, verifique se seu plano continua alinhado com eles e, caso note algum desvio, faça os ajustes devidos.

Mas não se esqueça de viver intensamente o presente pois, como disse anteriormente, ele é sem dúvida a coisa mais importante de nossas vidas.

Para saber se sua atitude no presente está alinhada com seus planos, consulte seu conjunto de valores e princípios. Se o seu prazer imediato está alinhado com eles, viva-o com intensidade e desfrute desse momento. Caso contrário, coloque foco nos seus objetivos de longo prazo e em seu plano de ação.

As dicas acima não são certeza de um futuro melhor, afinal incerteza e futuro são conceitos intimamente conectados. No entanto, podem ajudar muito a viver melhor o presente e a aumentar as chances de termos mais momentos felizes no futuro.

Se você tem comentários a fazer sobre esse e outros artigos, envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br. Terei muito prazer em respondê-los.

Abs.

PP

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