Olá,
Muito se fala na importância da inovação e da criatividade na capacidade das empresas em se manterem competitivas. Empresas são contratadas para "ensinar" as pessoas a serem criativas. Processos de seleção passam a incluir como critério de avaliação a criatividade das pessoas. Discutem-se as condições ideais no ambiente de trabalho que geram maior capacidade de inovação. Enfim, quase todo mundo está buscando maneiras de tornar seu pessoal mais criativo.
De todas as abordagens que encontrei sobre o tema Criatividade, a que mais gostei é de um autor relativamente pouco conhecido e muito jovem chamado Fábio Zugman. Para ele, criatividade é fruto de trabalho e dedicação, com uma pitada de devaneio. O trabalho duro em determinadas áreas do conhecimento humano, aumenta o arsenal de informações que podem ser combinadas entre si para gerar idéias e conceitos novos. O hábito de combinar essas informações de maneiras diferentes, buscando encaixes que façam sentido sem desconsiderar qualquer possibilidade, cria um leque de alternativas, a maioria delas sem sentido, mas que contém uma ou outra combinação que se apresentam como promissoras. Das poucas alternativas promissoras, o acaso e uma dose adicional de inspiração faz com que idéias realmente criativas sejam encontradas.
Em seu livro O Mito da Criatividade, Fábio nos faz lembrar da maneira mística com que tratamos as pessoas ditas criativas e como temos uma tendência a atribuir suas idéias a um dom divino (talento) ou a um simples golpe de sorte. Reforça ainda a maneira até mesmo pejorativa com que nos referimos às pessoas mais criativas, muitas vezes rotuladas como loucas ou estranhas.
Gosto da idéia de ver a criatividade como resultado de muito trabalho e da habilidade em fazer associações de conhecimentos adquiridos. Me agrada mais ainda a percepção de que para sermos criativos temos que tentar várias alternativas, cometendo mais erros do que acertos e, portanto, aprendendo de maneira acelerada. Acho realmente que o segredo de ser ou não criativo está na combinação desses fatores e recomendo que todos façam alguma reflexão a respeito.
Se assumirmos que a abordagem acima é verdadeira, o que acredito totalmente, chegamos a conclusão de que qualquer processo em busca de pessoas criativas tem grande chance de fracassar. Em vez de procurar pessoas criativas, talvez seja mais produtivo buscar pessoas que gostem de aprender, que tenham disposição para trabalhar e que não tenham receio de explorar as alternativas possíveis.
Por outro lado, essa abordagem reforça a importância de atuar sobre o ambiente em que as pessoas estão inseridas. É muito difícil ser criativo em uma ambiente onde erros não são aceitos, afinal para criar teremos que errar mais do que acertar. Mais difícil ainda será criar em um ambiente onde preferem-se idéias comprovadas a novas alternativas. Por fim, pessoas extremamente atarefadas, focadas em atividades repetitivas e estressantes, provavelmente terão pouca disponibilidade para estudar novos assuntos e menos ainda para fazer associações entre eles.
Por fim, me parece demasiado artificial ensinar as pessoas a serem criativas. Prefiro investir na conscientização sobre a importância de aprender sempre; no reconhecimento de que é o manuseio constante desse conhecimento que gera associações boas e más; e na constatação de que o acaso é parte do processo de criação mas não é o ator principal do mesmo.
Se você possui comentários sobre esse tema e queira compartilhar comigo, por favor envie um e-mail para paulo.pinho@uol.com.br.
PP
A criatividade é como o exercício físico. só evolui quando praticada. Nas escolas as crianças são formatadas a agirem de forma idêntica, logo castrando a sua criatividade. As empresas têm medo da criatividade porque é um caminho desconhecido, ser igual aos outros parece trazer menos riscos.
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